terça-feira, 10 de outubro de 2017

O moderno Robin Hood



Para quem curte Arrow e quer conhecer um pouco mais sobre o personagem nos quadrinhos, nos debruçamos sobre a aclamada minissérie do Arqueiro Verde, escrita por Kevin Smith, figurinha carimbada do público cinematográfico (dirigiu, entre outros, Dogma e Procura-se Amy), e também nos quadrinhos com seu fenomenal arco de histórias estrelado pelo Demolidor e a minissérie Cacofonia, do Batman.

Kevin Smith - que também pode ser chamado de "homem bombril", pois tem mil e uma utilidades, embora ultimamente tenha errado um pouco a mão nos filmes - trouxe de volta dos mortos o Arqueiro Verde original e transformou o seu título em um dos mais vendidos no período de lançamento. Antes de analisarmos a série escrita por Smith, vale a pena darmos uma retrospectiva na personagem.

A origem clássica do Arqueiro comumente aceita é a de que o milionário entediado Oliver Queen um dia caiu de seu iate durante uma viagem e ficou preso em uma ilha, dependendo de um rústico arco para sobreviver. Depois de certo tempo, pessoas estranhas chegaram nessa mesma ilha. Queen, descobrindo que elas na verdade eram traficantes de drogas, consegue prende-las, sendo depois resgatado pela guarda costeira. Ao voltar à civilização, vestido de Robin Hood, salva de um assalto os participantes de uma festa à fantasia. Após esse evento, associado com a grande crítica social que desenvolveu em seu exílio forçado, resolve se tornar um herói. Depois de um tempo, adota o jovem Roy Harper (atual Arsenal) e transforma-o em seu parceiro.


O Arqueiro Verde, como a maioria das personagens da DC, é originário da Era de Ouro. Criado em 1941 por Mort Weisinger (roteiro) e George Papp (desenho), era publicado inicialmente na revista More Fun Comics. O Arqueiro nada mais era, nessa época, que uma versão do Batman vestida de Robin Hood. Como ele, tinha um parceiro mirim Ricardito (Speedy), além de outros apetrechos similares aos que Batman usava nessa época, como um carro-flecha, um flechacóptero e até mesmo (em alguns números) habitava numa caverna. Suas flechas de mil e uma utilidades nos remetiam aos badulaques do cinto do Homem-Morcego. Como Bruce Wayne, Oliver também era um milionário. Mas, apesar de ser praticamente um xerox do Batman, fazia um relativo sucesso no período.



Foi nos anos 70 que as coisas realmente começaram a mudar para a personagem. Em uma de suas melhores e mais badaladas fases (desenhado por Neal Adams, responsável também pelo cavanhaque que se tornou marca característica de Ollie), ele se juntou ao Lanterna Verde/Hal Jordan e à sua amada Canário Negro para uma road trippin' através dos Estados Unidos, na qual enfrentavam traficantes e lidavam de frente com questões sociais, algumas relativamente polêmicas para a época. Vale ressaltar também que, nesse período, seu ex-pupilo Ricardito tornou-se viciado em heroína - tal história mostrou-se revolucionária quando de sua publicação.

Outra obra de destaque lançada com a personagem foi a minissérie Caçadores, publicada aqui pela Abril. Nela, temos um Oliver Queen mais envelhecido, não mais um milionário, residindo em Seattle (sua base original de operações era Star City, e durante um tempo atuou em Boston) com Dinah Lance, a Canário Negro. O tom é pesado (nessa série, Canário foi torturada e violentada por traficantes), mais próximo do estilo Vertigo que dos quadrinhos de heróis tradicionais.

Após a morte de Queen em uma explosão, seu filho Connor Hawke assume seu manto mas, não tendo a mesma empatia do pai, não chega a fazer muito sucesso. É aí que entrou Kevin Smith e sua série. Nela, Oliver Queen aparece desmemoriado em sua cidade natal, Star City. Após salvar a vida de Stanley, um velho milionário excêntrico, este passa a ajuda-lo para que volte a combater o crime. Entretanto, nada é o que parece.

Se os desenhos de Phillip Hester causam estranhamento nos fãs de estilo mais clássico, o roteiro e os diálogos de Smith empolgam. Mais experiente e menos prolixo que no Demolidor, ele mostra aqui porque era apontado, na época, como um dos mais proeminentes roteiristas do momento. Sendo um fã e respeitando a inteligência dos demais fãs, Kevin não só tentou amarrar toda a cronologia da personagem, como também buscou nos seus momentos mais gloriosos (artisticamente falando) a inspiração para o seu retorno. Falar demais vai estragar a surpresa da história de quem ainda, depois de todos esses anos ainda não leu a série, mas só para dar uma canja, já no primeiro número algumas importantes pistas são lançadas sobre quem está envolvido no retorno de Queen.

Outra façanha de Smith foi construir a história do retorno do Arqueiro ao mundo dos vivos de um modo original e sem parecer estúpido, como as milhares de ressurreições ocorridas na Marvel (que já viraram motivo de chacota para os fãs) ou o esdrúxulo retorno do Super-Homem. E mais um aspecto fascinante da história é essa amnésia de Queen. Oliver é um cara preso ao passado, aproximadamente nos anos 80, e é hilariante ver sua inaptidão com a tecnologia de nossos dias.

Depois que Kevin Smith encerrou com sucesso sua participação no título, Brad Meltzer, autor de livros de grande sucesso nos Estados Unidos, assumiu a publicação, e também estar alcançou um bom êxito com a personagem.

Sem sombra de dúvidas, essa série é recomendável para todos aqueles que gostam de quadrinhos, mesmo não sendo fãs do Arqueiro.

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